Semana 1
26 de Abril, quarta-feira
Dia 26 de Abril, começou a primavera das ocupações, marcada pelo início da ocupação da Faculdade de Letras (FLUL), do Instituto Superior Técnico (IST) e da Faculdade de Psicologia (FPUL), em Lisboa.
Houve também ações simbólicas por parte da Faculdade de Letras no Porto (FLUP), da Secundária Luísa de Gusmão em Lisboa, da Josefa de Óbidos em Lisboa, da Secundária Tomás Cabreira em Faro, da Faculdade de Letras em Coimbra (FLUC) e da Faculdade de Ciências em Lisboa (FCUL).
27 de Abril, quinta feira
Dia 27 continuaram as ocupações na FLUL, no IST e na FPUL, bem como as ações simbólicas na FLUC. Houve ainda uma ação simbólica na Faculdade de Belas Artes, em Lisboa (FBAUL).
Na Luísa de Gusmão, a polícia foi chamada pela direção devido a um protesto pacífico de uma estudante de 15 anos.
Na Secundária Tomás Cabreira em Faro, a polícia foi chamada também, e identificou as estudantes, após estas terem fechado a escola em protesto.
28 de Abril, sexta-feira
Na FPUL, na conferência do Instituto de Educação “O Futuro Começa Hoje” alunas montaram faixas, estatísticas de crise climática, e projetaram a convocatória para o bloqueio do porto de gás em sines. Questionam “Que Futuro Começa Hoje?”
Na FLUL, continuaram as várias palestras, entre as quais uma sessão de esclarecimento sobre a ação de parar o gás no dia 13 de Maio, em Sines.
29 de Abril (Sábado), 30 de Abril (Domingo) e 1º de Maio (segunda-feira)
As estudantes da Faculdade de Letras e da Faculdade de Psicologia em Lisboa continuaram a ocupar as suas faculdades durante o fim de semana!
Em Coimbra, as estudantes do fim ao fóssil juntaram-se a protestos pela cidade.
Para preparar a semana de ação intensa que aí vinha, dia 1, dividíamos-nos entre o bloco por justiça climática nas celebrações do dia do trabalhador, e as últimas reuniões, treinos e logísticas necessárias a ter como alvo 10 instituições, ao mesmo tempo. FLUL e FPUL aguentaram as ocupações a semana inteira, com os micro e macro confrontos que isso exige, a explicar arduamente que não estamos aqui para negociar com direções.
Após 6 dias de ocupações, reuniamos cerca de 100 assinaturas para o protesto em Sines.
Semana 2
2 de Maio, terça-feira
António arroio ocupada e fechada, ninguém entrava nem saía. A energia e coragem das estudantes organizadoras da ocupação e a confiança e atitude com que falam em justiça climática são uma grande vitória para o movimento. A massa de estudantes e não só a acompanhar o protesto e a juntarem-se à assembleia fim ao fóssil lembraram-nos a mesma explosão no semestre passado.
Mas estudantes não lideraram disrupção só nos locais habituais. Escola secundária rainha dona Leonor reiniciava, depois do fim de semana, o confronto diário com as ativistas climáticas, e os portões da Escola Secundária Dona Luísa de Gusmão precisaram de uma carrinha de bombeiros para forçar a capa de normalidade nas temperaturas recorde em abril.
O Liceu camões começou a ocupar, voltando a chamar à atenção, com uma manifestação dentro da escola, a interromper aulas e ocupar auditórios com as conversas, debates e palestras que deviam estar a acontecer num sistema de ensino em crise climática. As camaras e chamadas chegaram à porta de qualquer um destes estabelecimentos de ensino e conseguimos sublinhar repetidamente o plano para nos mantermos vivas: fim ao fóssil até 2030, com necessidades atuais ainda mais urgentes de eletricidade 100% renovável e acessível até 2025.
Na faculdade de Belas artes começa a fervilhar um núcleo de estudantes que quer ocupar, as tendas são trazidas, as condições avaliadas, e uma formação de resistência civil e ação climática marcada para o dia seguinte, assim como uma ocupação.
Neste dia uma equipa de ocupantes dá um salto fora das ocupas para bloquear a normalidade fora dos portões: fomos sentar-nos no asfalto, a parar as estradas no campo grande.
3 de Maio, quarta-feira
É difícil bater inícios, a menos que se trate da ocupação da faculdade de Letras da UL. A ocupação sediada num jardim do campus, de tendas impossíveis de ignorar por quem quer que passe na alameda da cidade universitária, que alastra diária e teimosamente para os corredores da faculdade, com cantinas solidárias, conversas, discussões e um grupo de ativistas que dão o corpo ao manifesto, alastrou até ao gabinete do diretor. Aquilo que foi interpretado como vontade de negociar tornou-se uma ocupação para ilustrar a verdadeira mensagem: ninguém pode ignorar isto, a instituição não tem legitimidade de continuar enquanto não viver connosco a urgência de mobilizar a sociedade: saímos quando a instituição usar o seu alcance para conseguir 300 pessoas inscritas.
A António arroio conseguiu ficar sem aulas pelo segundo dia, concordando em voltar a abrir no dia seguinte.
As tendas e o jantar são montados nos corredores da faculdade de belas artes da Universidade de Lisboa. A pressão é impossível de ignorar pela direção da faculdade, mas a determinação estudantil inspira a direção que termina a noite comprometida a ir a Sines e apelar a que a restante comunidade estudantil faça o mesmo. É lançado um comunicado a partir deste gabinete, pelas vias da instituição, por aquilo que a sociedade tem de fazer por fim ao fóssil até 2030.
4 de Maio, quinta-feira
Liceu Camoes escalou a sua atitude e fechou a escola, mostrando que a agenda da justiça climática não pode coexistir com a agenda de aulas normais para quem não quer olhar: a crise climática não espera por convite, a dirupção também não. Reunem com o diretor
enquanto o sacrifício que nós fazemos não for igualado por compromisso do resto da sociedade.
Também a normalidade na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), em Lisboa, foi perturbada, tendo os alunos fechado a escola de manhã e interrompendo aulas quando estas voltaram a ser retomadas.
Neste dia parámos estradas no Saldanha, na Estefânia e perto do Liceu ocupado, em solidariedade com a proposta de disrupção “de tudo em todo o lado”, palavras de António Guterres.
5 de Maio, sexta-feira
Ainda de madrugada, a ocupação da Faculdade de letras reconstruiu-se na fachada da faculdade, reforçada por uma estrutura de madeira onde uma estudante se pendurou: difícil de ignorar, difícil de remover, um obstáculo sério e fundamentado à normalidade, mas uma ameaça para ninguém exceto a normalidade.
Professores da Universidade mostraram apoio e compromisso reunindo connosco sobre próximos passos e possíveis coligações no movimento.
Neste dia fizemos parar a Praça de espanha e o trânsito de São sebastião.
6 de Maio (Sábado) e 7 de Maio (Domingo)
Todos os dias reavaliámos as condições e replaneámos o seguintes. Todos os dias nos inspiramos em fotos e notícias de ocupações pelo resto do mundo. Todos os dias corredores de faculdades geraram momentos e imagens históricas. Todos os dias discussões essenciais tiveram lugar, mentalidades mudaram, aulas pararam. Demos o corpo ao manifesto e todos os dias o número de inscritos na ação direta mais disruptiva e criativa que o país já viu – cresceu. Avançamos para a última semana de ação, não parando até que os responsáveis se responsabilizem, até que o nosso sacrifício for igualado pelo compromisso de toda a gente – vamos usar o fim de semana para descansar e preparar uma semana de ação ainda mais disruptiva. Escalamos porque a crise escala.
Semana 3
9 de maio (terça-feira)
Duas estudantes confinam-se na entrada da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, apelando à sociedade que “se revolte com a normalidade da crise climática”.
Teresa Cintra, uma das estudantes que sacrificam o seu presente na entrada da faculdade afirma fazê-lo porque “…a crise climática aprisiona o nosso futuro. Estamos sem acesso a comida até termos motivo para sair, porque em crise climática não vamos ter essa escolha, como muita gente hoje já não tem. A normalidade não nos dá escolha sobre o nosso futuro, e por isso temos de a mudar, e inspirar coragem na sociedade para fazer o mesmo no porto de Sines dia 13 de maio, com a plataforma Parar o Gás.”
A sua colega, Jade, partilha do sentimento: “Uma resposta adequada à normalidade tem de estar compatível com a ciência climática. Face uma normalidade marcada por crises cada vez maiores, a nossa resposta tem de impedir o seu funcionamento de forma cada vez mais sistemática.”
“Enquanto empresas fósseis lucram no presente à custa do nosso futuro e dos preços da eletricidade, estudantes sacrificam o seu presente a reivindicar um futuro digno para todos. Não tenho dúvidas sobre onde o meu apoio está” diz André Matias, colega das estudantes, que ocupou a faculdade de psicologia desde 26 de abril.
“Estamos aliadas às soluções reais”. As estudantes confinadas recolheram uma vaga de apoio à porta com dezenas de pessoas. Têm um programa de dia inteiro com palestras de ciência climática por parte de cientistas e investigadoras, e apresentações da campanha Empregos para o Clima, cujo relatório descreve um plano concreto para cortar 85% das emissões em Portugal até 2030. “Para retirarem as estudantes vão ter de passar por cima da ciência climática, e das soluções para a crise” afirma uma porta-voz.
10 de maio (quarta-feira)
A Jade e a Teresa, confinadas na entrada da Faculdade de Psicologia sem acesso a comida há 24h, declararam greve de fome até que o reitor da universidade de lisboa (UL) emitisse um apelo a que a comunidade educativa aderisse à disrupção para parar com a destruição, participando na ação de parar o gás, dia 13 de Maio.
Sem direitos básicos (comida e W.C.) até termos direito à vida: 1) fim aos fósseis até 2030; 2) 100% eletricidade renovável e acessível até 2025″
Jade
A crise climática aprisiona o nosso futuro. Sem comida e W.C. até agirmos juntas pela vida.
Teresa
Após continuarem a ser ignoradas pela reitoria da UL, um grupo de estudantes de diferentes faculdades da UL dirigiu-se até à reitoria para exigir falar com o reitor. Os vice-reitores deslocaram-se até à Faculdade de Psicologia, sem compromissos de tomarem a ação necessária para pôr fim à greve de fome das estudantes e retomarem o normal funcionamento da faculdade.
Ao fim do dia, o INEM foi chamado para avaliar o estado de saúde das estudantes, que descreveu como preocupante. As estudantes decidiram continuar a resistir, até que o reitor se pronunciasse.
Dezenas de estudante pernoitaram essa noite à porta da faculdade de psicologia em solidariedade com as suas colegas.
11 de maio (quinta-feira)
A Jade e a Teresa acordaram taquicárdicas, com os níveis de glicose muito baixos, sem forças para se levantarem, e sem resposta por parte das instituições de ensino que as deveriam proteger. Estudantes em solidariedade e preocupação trancaram os portões alternativos da faculdade de psicologia, que ficou completamente encerrada. Duas ativistas colaram-se para garantir que a emergência climática é incontornável, e que a indiferença não pode ser a resposta adequada quando a nossa vida e futuro estão em jogo.
As ativistas que trancaram o portão alternativo garantiram que não saíam até que as suas colegas saíssem. Tudo o que pedimos é que levem a emergência climática a sério. Um email da reitoria da UL a apelar à ação climática para proteger o futuro dos seus estudantes.
Ao fim da manhã, as estudantes acabaram por ser retiradas pelos bombeiros, que abriram os vidros para as remover, pondo fim ao bloqueio da faculdade. Teresa e Jade reforçaram que as instituições – inclusive da educação – estão a falhar em resolver esta crise e não têm as respostas necessárias, e apelaram a que toda a sociedade tivesse a coragem que elas, e todas as estudantes que ocuparam ao longo de 3 semanas, tiveram, juntando-se ao protesto de parar o gás dia 13 de Maio, para travar a crise com as suas próprias mãos. As estudantes aproveitaram o dia seguinte para repor as suas forças para se juntarem ao protesto de Sábado.
12 DE MAIO (SÁBADO)
13 DE MAIO (SÁBADO)
Centenas de pessoas foram bloquear o Porto de Sines e travar o seu funcionamento durante um dia inteiro! Puxámos o travão de emergência, o gás no local de crime parou. Por terra não saíram camiões de gás, por mar não chegaram navios dragões com gás. Também por gasoduto apoiantes de parar o gás puxaram o travão de emergência, mostrando que eles não são imparáveis e que nós conseguimos parar o crime com as nossas próprias mãos.