baseado na artigo de empregos para o clima: https://www.empregos-clima.pt/aspirando-a-neutralidade-carbonica-ate-2030-em-portugal/
O fim da economia fóssil até 2030 é o prazo ditado pela ciência e pela justiça para os países do Norte global de modo a conseguirmos travar de forma justa a crise climática e não ultrapassar a barreira de segurança dos 1.5ºC de aquecimento.
Ciência
O Relatório Especial sobre os Impactos do Aquecimento Global de 1,5ºC, elaborado pelo Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), uma organização da ONU que analisa milhares de trabalhos científicos, alerta para o facto de que o mundo precisa de atingir zero emissões líquidas de CO2 até 2050 para ter 66% de probabilidade de permanecer abaixo do catastrófico limite de aquecimento de 1,5ºC. Mas se isto acontecer existe ainda uma probabilidade de 1 em 3 de atingirmos o colapso dos sistemas terrestres. A meta de zero emissões até 2050 é assustadora demais, independentemente de outras considerações políticas e económicas. É necessário atingir a neutralidade carbónica antes.
Adiar a responsabilidade várias décadas tem outro problema: o nosso “orçamento de carbono” (o limite máximo para a quantidade de gases de efeito de estufa que ainda podemos emitir) vai esgotar antes de 2050. Todos os anos esgotamos o nosso orçamento muito antes do fim do ano. Isto faz com que acabemos por ter menos tempo para reduzir as emissões. Se continuarmos estas tendências, vamos esgotar o nosso orçamento total até 2030.
Justiça Global
A responsabilidade histórica pelas emissões ao longo dos séculos e a capacidade dos países de atuar, devem ser consideradas para uma distribuição justa dos cortes nas emissões. A Calculadora de Referência de Equidade Climática demonstra como devem ser calculadas as emissões de cada país, com base em vários parâmetros. A calculadora mostra que até 2030 a UE deve ter emissões zero. Como considerando a justiça social global como um princípio fundamental e adotamos estas diretrizes.
Portugal tem de ter o fim aos fósseis até 2030
As propostas do atual quadro político garantem um aquecimento superior a 3ºC, o que significa alcançar vários pontos de pontos de não retorno de nível planetário durante este século. O plano desenhado pelos governantes mundiais é produzir mais 110% de combustíveis fósseis em 2030 do que o considerado compatível com a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C. A produção de combustíveis fósseis duplicou até 2030 e devia ser cortada para metade: estamos a fazer precisamente o contrário do que devíamos. Isto é condenar o nosso futuro.
O fim ao fóssil até 2030 não é negociável: é uma condição para travar a crise climática, salvar milhares de vidas, e garantir o nosso futuro. Os únicos impedimentos neste momento são falta de vontade política, e não falta de ciência ou tecnologia. O primeiro passo para garantir isto é parar de usar gás fóssil para produzir eletricidade até o próximo ano, utilizando 100% eletricidade renovável e gratuita.
Para além desta medida concreta e urgente, a transição energética justa implica uma transformação em toda a sociedade: energia, agricultura, consumo, produção, transportes, e muito mais. Para tudo isto acontecer é necessário que seja criado um serviço público de energias renováveis. A transição justa nunca irá acontecer se mantivermos este sistema focado num lucro em que empresas controlam a energia. Revemo-nos no plano desenhado pela campanha Empregos para o Clima, que propõe um roteiro para o fim dos combustíveis fósseis que crie 200 mil novos empregos em Portugal que cortem emissões, colocando a justiça e a democracia energética no centro. Este projeto tem, além das explicações técnicas e administrativas, também as questões financeiras. É um projeto possível e viável, que responde à maior crise da história.
eletricidade 100% renovável e Gratuita
É o 1º passo para Fim ao Fóssil 2030
E mais uma vez: não falta capacidade técnico-científica, apenas vontade política.
Para conseguirmos uma transição para o fim aos combustíveis fósseis até 2030, precisamos de começar já. Esta é uma medida concreta e urgente que permite não só acabar com grande parte do gás fóssil em Portugal, mas também re-organizar o sistema energético com base nos valores da justiça e democracia. Para isto acontecer é necessário um serviço público de energias renováveis, garantindo que a energia é vista como um direito, e não uma mercadoria.
O preço do gás fóssil é instável e provoca inflação. Por outro lado, a produção de eletricidade 100% renovável e gratuita, através da construção de um serviço público de energias renováveis, de gestão pública e democrática, em vez de por grandes empresas privadas viradas para o lucro, iria combater a crise do custo de vida e a crise climática.
Seria necessário um aumento da capacidade de produção de renováveis, a diversificação de fontes de energia renovável, a agilização das licenças, entre outros. Tudo isto é ultrapassável com vontade política. O que vale mais, o nosso futuro, ou o lucro das empresas fósseis? A resposta até agora é que o nosso futuro é negociável, enquanto o futuro destas empresas não.
Parar de usar gás para produzir eletricidade
Uma boa parte do gás fóssil que entra em Portugal serve para a produção de eletricidade. Considerando que em 2022 61% da eletricidade foi produzida com fontes renováveis e 32,5% por gás fóssil, acabar com este gás significa que 100% da eletricidade seria produzida por fontes renováveis.
Qual o problema do gás fóssil?
O gás fóssil (ou “gás natural”) é vendido como um combustível “verde”, de transição quando, na realidade, é um combustível fóssil tão ou mais prejudicial como o petróleo e o carvão. Isto porque o “gás natural” é na realidade gás metano, um poderoso gás de efeito de estufa, e durante todo o seu transporte e processamento, grandes quantidades de metano são perdidas para a atmosfera.
Para além disto o gás é um dos maiores responsáveis pela crise de custo de vida que estamos a atravessar. A taxa de inflação está no maior nível desde há 50 anos atrás, e a Agência Internacional para a Energia diz que o custo dos combustíveis fósseis é responsável por 90% da inflação, com gás responsável por metade disto. As atuais crises política, de habitação e energética têm a mesma origem do que a crise climática: um sistema económico virado para o lucro, e completamente dependente de mercados de combustíveis fósseis que queimam não só o planeta, mas também a carteira das pessoas. É necessário mudar este sistema e criar um serviço público de energias renováveis, de modo a garantir que a energia não seja vista como uma mercadoria para gerar lucro mas sim como um bem essencial garantido pelo estado. A eletricidade produzida através de fontes renováveis é muito mais barata, e o custo da energia está associado ao escalamento dos preços dos combustíveis fósseis e à corrida pelos lucros desmedidos das empresas.