Sem futuro, não há paz. Uma frase de resistência. O compromisso coletivo que nos serve de ânimo e estandarte desde que nos começámos a mobilizar este ano letivo no movimento fim ao fóssil.
No caso palestiniano, nem presente digno existe, e o futuro é apenas um sonho por algo menos desumanizante.
Está a acontecer um genocídio na Palestina. E não, não é de agora.
Desde 7 de outubro, o massacre é justificado como punição coletiva, com bombardeamento aéreo ininterrupto, indiscriminado, arrasador de escolas, hospitais e milhares de vidas. Até agora, morreram 4100 crianças.
Na realidade, estas pessoas são isoladas do mundo há 16 anos, em condições inabitáveis, com água e eletricidade racionados, num sistema brutalmente opressivo de Apartheid. Há 16 anos que ninguém pode entrar ou sair. Israel militarizou uma jaula com 2,2 milhões de palestinianos: a Faixa de Gaza, o Gueto de Gaza, ou o maior campo de concentração de sempre.
Em Lisboa, é óbvia a indignação face ao que se passa. Nas ruas que sempre usámos para protestar, a permissibilidade do Ocidente sobre a verdadeira origem e escala do conflito não é aceitável. Quando a voz do oprimido é silenciada, a resistência é inevitável. Finalmente, alguém olha para a vítima, paramos de ignorar o conflito, e chegamos a confundi-la com o opressor. A História costuma apontar o erro, quando já é tarde demais.
O povo palestiniano, em território historicamente seu, não conhecer nada que não seja ocupação, expulsão, aterrorização, Apartheid, é um sinal claro: mostra a falência absoluta e criminosa dos círculos políticos que dominam o mundo, que constroem a nossa normalidade, que definem os limites do legal, do justo e do debate. A legitimação de um estado de Israel na Palestina é incompreensível fora da mente colonialista, fora do jogo político e interesses económicos
Aqui vemos o futuro construído sem a voz popular, sem movimento por justiça. Um futuro que esquarteja os povos mais vulneráveis, que lucra da militarização e violência, que reforça o medo entre culturas, ergue muros, destroi sociedades, e nega direitos básicos a quem ficou com a casa em escombros. O que será em caos climático é o que sempre foi, porque nem todas as vidas valem o mesmo. É o que nunca nos permitiu compactuar com a normalidade.
Em 1948 a comunidade internacional oferece 56% da Palestina ao povo israelita (na altura, 1/3 da população). O mundo fechou os olhos aos abusos de poder e violência que Israel impôs a partir daí: Nakba, um projeto militarizado de limpeza étnica, que resultou em 500 povoações destruídas e a expulsão de metade da população palestiniana.
O que nos desconcerta mais com a crise climática, aqui prolifera: isto já existia quando nascemos.
Isto é algo em que nasceram as últimas três gerações das famílias palestinianas: um povo aprisionado, aterrorizado, no seu próprio país.
Neste momento, vemos o povo palestiniano ainda mais enjaulado, numa visão política hegemónica e desonesta que vê israelitas como as únicas ou principais vítimas. É preciso ter raiva a este jogo político que não quer saber de nada nem ninguém. É preciso tomar ação. “Se não nós, quem?” – a mesma pergunta que constrói o nosso coletivo por justiça climática, para a mesma raiz em dinâmicas de exploração capitalistas, contra as mesmas pessoas, que destroem, beneficiam, e conseguem dormir à noite.
Como?
Fazemos parte do movimento por justiça climática, somos uma das frentes de luta contra a injustiça social. Não temos dado paz ao governo e às instituições. Não podemos reagir de outro modo que não em solidariedade com o povo palestiniano.
Vamos juntar-nos ao movimento que está a construir ação disruptiva. Com vista a um cessar fogo. Com vista a uma Palestina Livre. Por um plano real de paz e responsabilização dos criminosos, cúmplices e consentidores.
É, novamente, David contra Golias, e, novamente, uma luta que não nos paraliza, como nunca paralizou lutar contra o crime climático. Tirar o poder das mãos dos criminosos. Isto dá-nos mais força para agir, mais urgência de ganhar, e reforça a certeza de que estamos do lado certo, o lado que a normalidade quer calar.
Quanto a ti: com que emoção estás a viver os teus dias? Com que ilusão de paz? Com que permissibilidade ocupas os teus espaços? E em que se traduz essa emoção: ação? Ou indiferença? Age, connosco.