A maior parte de nós nasceu depois do início das conferências das Nações Unidas sobre o clima (C.O.P.s), que começaram há 28 anos. Somos uma geração que nasceu em crise climática. Quando éramos crianças ouvíamos falar sobre as crise climática, mas parecia uma história tão horrível que só poderia ser inventada. Alguém, pensávamos nós, tem de estar a tomar conta deste assunto.
Passados vários anos, de frente para o futuro e para a vida adulta, apercebemo-nos que desde que, desde que nascemos, a crise climática só piorou. Pior ainda: não só as emissões aumentam e as catástrofes intensificam-se, como os pedidos de “moderação” dirigidos a nós pelo governo só escondem planos insuficientes e receitas para o desastre que compactuam com o sistema fóssil que nos levou até este ponto. O mundo está em emergência climática, mas não em emergência política.
A crise climática é a maior crise que a Humanidade alguma vez terá de enfrentar. Ou mudamos tudo, ou tudo mudará por nós. No entanto, governos e instituições continuam a falhar-nos miseravelmente em travar o colapso climático e mudar de rumo em direção à justiça climática e social.
O governo português está a falhar-nos
Embora a narrativa de que Portugal está “na linha da frente” seja comum, sejamos claros: nenhum país do mundo está a fazer o suficiente para travar a crise climática, e muito menos aqueles cuja responsabilidade histórica pesa mais.
De acordo com o IPCC, o painel inter-governamental da ONU para as alterações climáticas, precisamos de cortar 50% das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) a nível global até 2030 se nos quisermos manter abaixo da barreira de segurança de 1.5ºC de aquecimento global. No entanto, um relatório recente da ONU frisou que os países do mundo estavam muito afastados das metas necessárias, e que as emissões de GEE ainda estão a crescer.
Para Portugal, um país localizado na Europa, estas metas significam que precisamos de cortar 85% das nossas emissões de GEE até 2030, e descarbonizar por completo a nossa economia – colocando o fim ao uso de todos os combustíveis fósseis – até 2030.
Isto é, de acordo com critérios de justiça global, os países do Norte Global devem atingir a neutralidade carbónica bem antes de 2050 de forma a garantir uma transição energética da energia fóssil para energia limpa que é socialmente justa e que não esgota o nosso orçamento de carbono. Podes ler em detalhe o porquê de defendermos a neutralidade carbónica e o fim ao fóssil até 2030 aqui.
Quais os planos do governo português?
- Neutralidade carbónica até 2045
- Fim ao gás fóssil até 2040
- Novos projetos que aumentam emissões: gasoduto, novo aeroporto, etc
Numa década que mal começou e já ficou marcada por incêndios catastróficos, cheias mortíferas, ondas de calor insuportáveis, secas sem fim à vista e escassez a bater à porta, o governo não está em emergência climática. Os planos são insuficientes para travar o colapso, e não há qualquer preocupação com uma transição que seja socialmente justa para as pessoas.
Precisamos do fim dos combustíveis fósseis e que este seja o último inverno de gás. Precisamos de eletricidade 100% renovável e acessível para todas as famílias até 2025.
Os governos e instituições estão a falhar-nos, mas nós estamos a determinadas a lutar pelo futuro que nos estão a roubar. Em Novembro, vamos parar e disromper processos institucionais porque a nossa casa está a arder mas as instituições não estão a agir como tal. No dia 24 de Novembro, os estudantes pelo fim ao fóssil das mais variadas escolas e universidades de Lisboa vão ocupar o Ministério do Ambiente pelo fim ao fóssil.
A interrupção da normalidade nas instituições é um ensaio: se os governos e as instituições não tomarem ação pela crise climática, nós vamos tomar as escolas e os ministérios para tratar disso nós mesmos. Vamos retomar o poder que é nosso, e reconstruir a sociedade de que precisamos – mais justa, e onde a vida e não o lucro estão no centro das prioridades.