Nas Gargantas Soltas do Gerador, Matilde Alvim traz as 3 principais razões para te comprometeres a criar disrupção para parar a destruição. “A História não se muda por decreto. Ela é feita da coragem das pessoas comuns.”
Na Primavera de 2023, a começar a 26 de Abril, os estudantes de Lisboa vão ocupar outra vez escolas e universidades pelo fim ao fóssil. Desta vez, para além da reivindicação do fim aos combustíveis fósseis no país até 2030, as ocupações anunciaram uma nova reivindicação: 100% de eletricidade renovável e acessível para todas as famílias até 2025.
Contudo, os governos (sim, no plural) têm demonstrado cada vez mais, ao longo dos anos, a sua inércia e, acima de tudo, falta de vontade política para resolver a crise climática e assegurar ao mundo uma transição justa, planificada e gradual rumo a um sistema livre de combustíveis fósseis e, claro, da lógica do lucro. No caso de Portugal, como a campanha Empregos para o Clima já demonstrou inúmeras vezes, é perfeitamente possível cortar as emissões em cerca de 85% nos próximos dez anos, ao mesmo tempo que criamos centenas de milhares de novos empregos dignos e públicos. É por isso que, nos últimos tempos, o movimento pela justiça climática em Portugal e no mundo tem falado sobre a necessidade de tomar a responsabilidade de cortar emissões nas nossas próprias mãos, escalando das habituais táticas da petição e das marchas para a desobediência civil, utilizando os nossos corpos para parar o dano na sua fonte e desafiando a moralidade das leis injustas.
Para vencer um sistema injusto que permite lucros criminosos enquanto o planeta arde e as pessoas não conseguem pagar as contas, precisamos de toda a gente – não só estudantes a ocupar as suas escolas e universidades, mas também a mobilização para a ação de toda a sociedade: professores, trabalhadores, cientistas e académicos, pessoas desempregadas e na precariedade, artistas e escritores, e tantos mais. Eis, portanto, a segunda novidade das ocupações estudantis desta Primavera: vamos ficar a ocupar escolas e universidades pelo fim ao fóssil e pela eletricidade 100% renovável e acessível até 2025, até que 1500 pessoas se comprometam publicamente a lutarem connosco por estas reivindicações participando na ação de desobediência civil em massa a 13 de Maio no terminal de gás natural liquefeito de Sines, organizada pela plataforma Parar o Gás.
No artigo de hoje, quero convidar o/a leitor/a a refletir sobre as top 3 razões para comprometeres-te a criar disrupção para parar a destruição, participando na ação de desobediência civil no terminal de GNL de Sines para exigir 100% eletricidade renovável e acessível a todas as famílias até 2025.
1. A crise climática está e vai continuar a lixar-nos, se não agirmos agora para cortarmos 50% das emissões de C02 a nível global até 2030. O ano passado ⅓ do Paquistão ficou debaixo de água, afetando 33 milhões de pessoas. Nesse mesmo Verão, Portugal ardeu de novo e a Europa registou o seu verão mais quente desde que há registo, morrendo 26 000 europeus só na onda de calor.
2. Os preços da energia e de praticamente todos os bens essenciais estão a aumentar catastroficamente, ao mesmo tempo que as petrolíferas lucram recordes. De acordo com o relatório “Mapping the Cost of Living Crisis in Europe”, em Setembro de 2022 em Portugal o nível de inflação em geral era de 9%, sendo que a inflação dos preços de energia chegaram a 24%. Portugal tem 660 a 680 mil pessoas que vivem numa situação de “pobreza energética severa” de acordo com a Estratégia Nacional de Longo Prazo para o Combate à Pobreza Energética 2022-2050. Até a Agência Internacional de Energia já afirmou: “Os altos preços da energia estão a causar uma enorme transferência de riqueza dos consumidores para os produtores (…). Os preços altos dos combustíveis são responsáveis por 90% do aumento dos custos médios da geração de eletricidade a nível global, com o gás natural à cabeça, sendo responsável por mais de 50% do aumento”. Ao mesmo tempo, as empresas de combustíveis fósseis duplicaram os seus lucros em relação a 2021. Por cá, a Galp registou os seus maiores lucros de sempre, uns vergonhosos 881 milhões de euros a encher o papo aos acionistas e CEOs. Em suma: nós estamos a pagar os lucros das grandes empresas de distribuição, importação, produção e refinação de energia (leia-se: Galp, REN, EDP, TrustEnergy).
3. A História é feita de pessoas como eu, e como tu. A crise do custo de vida e a crise climática não são um acaso, são engendradas como parte do mesmo sistema – o sistema do capitalismo fóssil, que prefere proteger os lucros megalómanos das indústrias do fóssil do que garantir condições de vidas justas às populações. A História não se muda por decreto. Ela é feita da coragem das pessoas comuns.
“We live in capitalism. Its power seems inescapable. So did the divine right of kings”, dizia Ursula K. Le Guin. Esta vai ser uma Primavera de lutas bonitas e combatentes – a manifestação pela habitação no dia 1 de Abril, as ocupações de escolas, e a ação direta no terminal de gás em Sines, entre outras.
Nós vamos criar disrupção para parar a disrupção. E tu?