Escrito a 16 de Novembro de 2022.

Hoje, a 16 de Novembro, após a reunião com o ministro da economia que recusou a vontade de milhares de pessoas da sua demissão, no dia seguinte à ocupação do liceu Camões que encerrou a escola para gritar alto e bom som que a normalidade não pode continuar enquanto não pararmos de depender dos combustíveis fósseis e enquanto tivermos fósseis no governo, damos fim a esta vaga de ocupações.

Ocupámos 2 escolas e 4 faculdades durante uma semana com duas reivindicações claras e cuja necessidade é indiscutível: fim aos fósseis até 2030 e fim aos fósseis no governo, a começar pela demissão imediata do ministro da economia e do mar António Costa Silva.

Depois de termos fechado pela primeira vez na história dois secundários (a António arroio e o liceu Camões) pelo clima; depois de 4 alunas da Faculdade de Letras terem sido detidas pela polícia, a pedido da direção, por estarem a lutar pacificamente pelo futuro de todas nós; depois de termos parado a normalidade em mais 3 faculdades de Lisboa – o instituto superior técnico, a faculdade de ciências sociais e humanas, e a faculdade de ciências da universidade de lisboa -; após dezenas de ativistas terem interrompido o ministro da economia no meio de um protesto de milhares contra o fracasso climático; e depois de lhe termos entregado a sua carta demissão a vivo e a cores, declaramos que estas ocupações foram um sucesso.


As ocupações estudantis que começaram no dia 7 de novembro marcam uma nova etapa no movimento estudantil e no movimento por justiça climática: as estudantes estão a radicalizar-se e a escalar as suas táticas à medida que a crise climática escala também. Estamos aqui, estamos para ficar, e não nos vão silenciar. Ao longo destas ocupações centenas de estudantes estiveram a receber e a educação que todas precisamos para enfrentar a crise climática: como tomar ação coletiva para mudarmos o rumo da história e prevenir o colapso da civilização como a conhecemos hoje.

Queremos agradecer às centenas de estudantes que ocuparam as suas escolas e que têm a coragem e determinação para lutar por todas nós e pelo nosso direito à vida e à educação. Queremos também agradecer aos pais, membros da comunidade educativa, e centenas de professores e de artistas que apoiaram os estudantes em luta e estiveram do nosso lado.


Embora não tenhamos vencido as nossas reivindicações ainda, decidimos dar hoje fim à ocupação, unidas no ministério da economia, para tirarmos tempo para cuidarmos umas das outras e nos começarmos já a preparar para a próxima vaga de ocupações, mais fortes e mais capazes de enfrentar esta crise. Na primavera de 2023 comprometemo-nos a voltar com mais força para vencermos, ocupando pelo menos o dobro de escolas/faculdades do que ocupámos este novembro, e comprometendo-nos ainda a que pelo menos uma destas ocupações seja realizada fora de Lisboa, expandindo esta luta urgente e universal ao resto de Portugal.

Vamos voltar a ocupar porque o nosso governo, que deveria salvaguardar a nossa existência, já provou que o único interesse que defende é o do lucro e das petrolíferas, não estando à altura de enfrentar a maior crise das nossas vidas. Assumimos a nossa responsabilidade nesta luta, sabendo que somos aquelas de quem estávamos à espera para nos salvar e que não podemos desistir porque isso significaria desistir de milhões de vidas. Vamos continuar a lutar porque não temos outra alternativa sem ser vencer.

O primeiro ministro não se pronunciou quanto a acabar com o uso de combustíveis fósseis até 2030 – algo que a ciência nos diz que tem de acontecer para termos um futuro -; depois de tudo, o ministro da economia e do mar, António Costa Silva, ainda não foi demitido nem se demitiu, permitindo-se a continuação da presença dos interesses fósseis no nosso governo.

Esta luta é de todas nós, não apenas das estudantes. No dia 19 de Novembro (próximo Sábado), às 14h, no Disgraça, iremos ter uma assembleia de próximos passos para o movimento por justiça climática, onde convidamos todas as pessoas que querem saber do nosso futuro coletivo a juntar-se, para poderem encontrar o espaço onde podem lutar pelo fim ao fóssil, seja nas próximas ocupações estudantis, seja nas próximas ações da campanha gás é andar para trás.

Eles nunca pararam. Eles nunca vão parar. Cabe a nós pará-los.
Parar o gás, fora Costa e silva!
Até já!

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