Cada situação precisa duma resposta compatível com a situação.

Tentámos fazer manifestações. Milhares de estudantes em Portugal saíram às ruas em 2019 para exigir ação climática. Nada foi feito, e a situação continua a piorar. Temos ainda menos tempo para mudar tudo antes que tudo mude por nós.

Precisamos de um novo 2019: Sabemos que a história não se repete, mas a verdade é que precisamos de um novo pico de mobilizações por justiça climática e social. À medida que a crise climática se acelera e as condições de vida se deterioram, sabemos que mobilizar com mais força do que nunca não só é possível, como existencialmente necessário.

Precisamos de criar disrupção: precisamos de perturbar o business as usual, não temos tempo. Temos de escalar as nossas táticas e ações para parar a crise climática e os criminosos climáticos e da civilização.

Desobediência civil funciona

Existem exemplos históricos em que movimentos sociais mudaram a sociedade profundamente através de desobediência civil.

O movimento das sufragistas foi um movimento social e político com o objectivo de estender o direito de votar às mulheres. Teve origens em meados do século XIX, com a Nova Zelândia a ser o primeiro país a reconhecer o sufrágio feminino a 19 de setembro de 1893. O primeiro país europeu foi a Finlândia, em 1911. Reino Unido em 1918. EUA em 1920. Lutaram, mostraram determinação e venceram.

Rosa Parks, símbolo do movimento dos direitos civis dos negros nos EUA. Ficou famosa por se ter recusado a ceder o seu lugar num autocarro a um branco, a 1 de dezembro de 1955, sendo presa. Três dias depois foi convocado um boicote aos autocarros de Montgomery, marcando o início da luta antissegregacionista. O boicote durou 381 dias até que em 1956 a Suprema Corte americana julgou inconstitucional a segregação racial em transportes públicos.

Act Up é um movimento LGBT para pôr fim à pandemia do HIV, iniciado em 1987. Numa conferência um jornalista pediu para que metade das pessoas se levantassem. Depois disse: em 3 anos metade desta sala irá morrer. Quando está em causa a morte certa, relativizavam-se os meios e as consequências das acções, por exemplo a detenção e a prisão.

Ende Gelände é uma acção que acontece todos os anos na Alemanha, desde 2015. Milhares de activistas de toda a europa juntam-se para bloquear minas de carvão a céu aberto, uma das maiores do mundo. Em 2016, 2017 e 2018 foram entre 3 e 6 mil activistas, em cada ano, a bloquear várias minas.

Isto tudo parece muito distante, mas não é verdade. Em Portugal, em 2019, contra o contrato de prospeção de gás na Bajouca, fizemos um acampamento de desobediência civil chamado “Camp In Gas”. E ganhámos.

Desobediência civil mostra que estamos determinadas. Mostra que estamos aqui para vencer. Mostra que não estamos a brincar. Utilizamo-la porque temos de trazer o assunto ao público. Fazemo-la porque não vamos deixar o business as usual continuar. Vamos fazer desobediência civil porque funciona.

Estudantes têm o poder de mudar o rumo da história

Temos de parar de delegar a responsabilidade de resolver o mundo a outros. Quem nos devia proteger está a falhar, e já sabemos disso há demasiado tempo. Isto não vai ser fácil, mas é mais fácil do que encarar a catástrofe climática. Nós, os estudantes, temos o poder de mudar o mundo, e já o fizemos antes.

Em Maio de 68, estudantes em universidades francesas convocaram protestos, greves e ocupações contra o capitalismo, cultura consumista, imerpialismo americano e hierarquia nas universidades e no Estado. Cerca de 10 milhões de trabalhadores depois juntaram-se, e pouco depois toda a sociedade estava mobilizada. O Maio de 68 continua na memória como uma das mudanças sociais mais significativas na França, tendo a sua influência sido espalhada por toda a Europa.

Em 2015 no Brasil, com a Primavera Secundarista, estudantes dos secundários de S. Paulo ocuparam várias escolas em protesto contra o plano autoritário de fechar 200 escolas públicas na região. O protesto cresceu rapidamente pelo Brasil e em 2016 mais de 1000 escolas foram ocupadas pelos secundaristas. Os estudantes dormiram, comeram e tiveram várias atividades auto-organizadas e debates dentro das escolas ocupadas, partilhando recursos entre ocupas e com o resto da comunidade.

Apesar do Occupy Wall Street não ter sido um movimento liderado pelos estudantes, pelo menos inicialmente, tiramos inspiração desta mobilização massiva. Com início em 2011, milhares ocuparam o centro financeiro de Nova York (e do mundo) sob o slogan “somos os 99%”. A ação foi convocada por um jornal e a única regra era “traz a tua tenda”.

Também durante o Estado Novo os estudantes se insurgiram contra a ditadura e foram um pilar fundamental para o derrube do fascismo. A crise académica de 62 na Universidade de Lisboa e no Instituto Superior Técnico, que incluiu greves gerais às aulas, greve de fome coletiva na cantina, e imensa resistência a agressão policial e detenções injustas, foi um dos levantamentos estudantis mais expressivos em Portugal de sempre.

Porque escolas e universidades servem para moldar o nosso futuro

Se antes fazíamos greve às aulas porque “para quê estudar se não vai haver futuro?”, agora estamos a usar os espaços que a sociedade elegeu para nos prepararmos para o futuro para encararmos que o futuro que vamos ter é o de crise, mas que nós, estudantes, podemos fazer algo.

Às vezes as nossas escolas estão ligadas diretamente à indústria fóssil (ao ter parcerias com bancos fósseis, ou ao ensinar aulas sobre como refinar petróleo, por ex.). Outras vezes estão apenas a preparar-nos para um futuro que não vai existir, o do capitalismo fóssil.

Queremos que as nossas escolas sejam um espaço combativo e de construção de alternativas e do futuro que queremos ver, não queremos que seja um espaço de negação. Estudantes tiveram um papel fundamental inúmeras vezes no passado na mudança social, e temos de fazer tudo ao nosso alcance para reavivarmos esse potencial.

Os estudantes têm um papel fundamental na sociedade: Nós, os estudantes, somos uns dos agentes que vão mudar a história e acabar com a economia fóssil. Ao contrário do que muitas vezes nos ensinam na escola, temos imensas capacidades, ambição, energia e coragem. Temos de usar isto tudo para criar um novo mundo!

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