Não, não há outra palavra.

Num século só, o planeta já aqueceu mais de 1,1ºC. Esta velocidade é algo sem precedentes.

Para conseguirmos combater o acelerar da crise climática, temos de reduzir as emissões drasticamente. O custo da inação é o das nossas vidas. A cada ano que passa perdemos a oportunidade de fazer uma transição mais suave e justa.

Há vários mecanismos físicos e químicos que podem tornar as alterações climáticas irreversíveis. Há pontos sem retorno. A partir dum determinado momento as coisas ficarão fora do nosso controlo, independentemente de reduzirmos as emissões. Entre 1,5ºC a 2ºC de aquecimento, a ciência mais conservadora prevê que se passe o ponto sem retorno. Mesmo se todos os países cumprissem o Acordo do Paris…este aquecimento seria ultrapassado.

A indústria fóssil é a maior responsável pelas alterações climáticas e, apesar de o saber, continuar ativamente a cometer crimes contra a humanidade.

A crise climática não é uma realidade do futuro.Se olharmos para as notícias dos últimos 3 meses percebemos isso. A Europa está a arder todos os anos de formas incontroláveis. As ondas de calor na China e Europa mataram milhares de pessoas. Só em Portugal morreram mil pessoas em menos de 15 dias durante Julho. A crise climática está aqui e agora.

Atualmente pelo menos 1/3 do Paquistão está submerso. Em março tiveram secas e ondas de calor, com constante quebras de eletricidade; desde de Junho que começaram a ter cheias. Depois de meses e meses de chuvas sem parar, uma grande parte do país ficou submerso e permanecerá assim pelo menos até ao final de Novembro.

Quando catástrofes destas acontecem as consequências são brutais e imagináveis. Neste momento em vários lugares as árvores estão repletas de teias de aranhas, que subiram às árvores para sobreviver às cheias. Milhares de mulheres estão a dar a luz em águas imundas, imensas doenças surgem e espalham-se.

Olhando para o outro lado do mundo, Porto Rico, Cuba e Florida foram devastados pelos Furacões Ian e Fiona, deixando largas áreas sem eletricidade.

Este ano arrancou com 90% de Portugal em seca.

Este verão, arderam 80 mil hectares do nosso território.

Isto é o mundo com um aumento de temperatura de 1.1ºC.
Os planos dos governos e das empresas apontam para cima dos 2,7ºC. Nós sabemos que não queremos viver nesse mundo. E achamos que tu também não.

O problema é que continuarmos as nossas vidas normalmente está a levar-nos para esse mundo. Como vimos, atualmente as emissões continuam a aumentar e com elas, a temperatura.


Quanto é que vai continuar a aumentar depende do que fazemos hoje. A diferença entre o pior e o melhor cenário é gigante.

Não está fácil. Não vai ficar mais fácil.
A realidade é que vivemos num sistema completamente dominado pela indústria fóssil que nos está a matar em prol de lucros em curto prazo para o 1% da população.

Expropriam terras a comunidades inteiras para exploração, exploram trabalhadores, assinam milhares de ativistas pelo mundo que se opõe e resistem, tornaram tudo e todos dependentes dos seus produtos. São o pilar de suporte do Capitalismo e estão alicerçados no Patriarcado, Colonialismo e Racismo.

Está tudo fodido. Estamos assustadas.
Dizem-nos que este é o único caminho. Mas isso é uma mentira.

Estamos fartas. Estamos à beira do colapso. Isto não pode continuar.

O Acordo de Paris garante-nos um aumento de temperatura de 3.2 a 3.5ºC . De acordo com isto, Portugal lançou o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 que é compatível com os compromissos da União Europeia. Depois, mais recentemente foi lançado o PNEC2030, que é compatível com o Roteiro. Tudo isto está alinhado, uns com os outros, e são uma garantia da trajectória para o caos climático.

Aliás, há uma série de projectos que visam aumentar a produção e o consumo de combustíveis fósseis em Portugal.

  • Expansão do aeroporto da Portela
  • Novo aeroporto do Montijo
  • Expansão do terminal de gás em Sines
  • Gasoduto Guarda-Bragança
  • Desinvestimento nos comboios
  • Não há plano de encerramento e requalificação de setores poluentes para renováveis e uma transição justa para os seus trabalhadores
  • António Costa e Silva diz-se aberto para receber propostas de exploração de gás fóssil em Portugal

O que é essencial é que, depois de tantas cimeiras, reuniões, congressos, papéis, etc…as emissões nem sequer estão a diminuir.

O tempo de falsas esperançar acabou. Temos que deixar de assumir que está tudo ok, que tudo vai ser resolvido.

Temos de enfrentar a crise como está. Se calhar o maior obstáculo é encontrarmos as respostas emocional e política adequadas a esta crise.

A única resposta adequada que encontrámos foi ocupar pelo fim aos fósseis.

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