OCUPAÇÃO DE NOVEMBRO
Ocupa o Camões!
É uma verdade reconhecida que a maior parte dos adolescentes passa a maior parte do seu tempo na escola. Quer seja em aula, com amigos ou em atividades extras, é certo que a nossa vida, enquanto estudantes, gira à volta da escola. É também mais que reconhecido que nós estamos a viver uma crise climática, palavras estas que desde que nascemos nos têm vindo a ser explicadas uma e outra vez: como não podemos deixar lixo no chão ou como vamos comer localmente. Em suma, pequenas ações individuais no nosso dia a dia que ajudam a diminuir a poluição e a nossa pegada carbónica. Apesar da legitimidade de todas estas práticas, chegámos a um ponto do aquecimento global no qual a ação individual não é suficiente, cada vez mais precisamos de resultados rápidos e a implementação destas práticas levaria anos a dar frutos; infelizmente, não temos tempo. Com a temperatura global a subir desenfreadamente e os governos a terem escassos planos para combater esta crise, não há tempo para meias medidas, não é normal o que estamos a viver.
A ação individual mostra-se insuficiente, é agora a responsabilidade dos governos, que juraram proteger-nos e ajudar-nos, fazer alguma coisa, por isso é que boicotamos, manifestamos e ocupamos. O objetivo nada mais é que provocar uma resposta dos órgãos administrativos e exigir mudanças de modo a colocar em destaque este problema muito real, visto que cada vez mais somos confrontados com consequências diretas das nossas ações passadas. Porque se fomos nós que provocámos a crise que está a destruir o nosso único planeta, porque é que não o estamos a tentar salvar? Porque é que sabemos que em poucos anos as mudanças ao clima podem ser irreversíveis e não fazemos nada? Enquanto estudantes trabalhamos para o nosso futuro, quer seja para entrar numa faculdade ou para conseguir um emprego, nos estudamos para o que vier. E se não vier nada? E se todo o futuro for manchado de uma forma que não seja possível ignorar? É por isso que protestamos e ocupamos, fazê-lo não só por nós mas por toda a gente. Ocupando escolas por toda a Europa, esperamos dar quanta mais relevância ao tema que conseguirmos, ocupamos as escolas e interrompemos as aulas até uma resposta direta do Governo, e se não acederem as ocupas, manifestações e boicotes continuarão.
Por isso luta e ocupa, pelo teu futuro e pelo o de todos! Não nos calamos até termos motivo para nos calarmos.
Reivindicações do Núcleo:
A Ocupa na Escola Secundária de Camões rege-se pelas seguintes reivindicações:
1. Fim aos combustíveis fósseis até 2030
A extração e utilização de combustíveis fósseis são ambas ações extremamente poluentes, o objetivo é neutralidade carbónica e que estes combustíveis deixem de ser utilizados e sejam, seguidamente, substituídos por alternativas mais sustentáveis de energia. Até 2030 o Governo deve priorizar o teste e implemento destas formas alternativas de recolher energia: eólica, hidráulica, solar, etc., a nossa reivindicação é que se encontrem outras formas de consumir energia que não as mais poluentes.
2. Demissão do ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva, ex CEO da empresa petrolífera Partex Oil and Gas
É extremamente preocupante que o ministro português da Economia e do Mar seja um magnata do óleo, licenciado em Engenharia de Minas, Mestre em Engenharia de Petróleos e Doutor em Engenharia de Reservatórios Petrolíferos. Cada vez mais empresas como a Galp lucram desta indústria e o próprio ministro diz que “Precisamos de economia que também tenha grandes empresas, não sou partidário do síndrome do Portugal dos pequeninos, sobretudo em termos empresariais, não é isso que nos vai dar o salto” e acrescentando “não podemos ter o hábito de andar sempre a hostilizar as empresas, sobretudo as Galps, EDPs e etc”. Ou seja, existe uma óbvia cumplicidade entre esta indústria e o ministro, logo, se queremos retirar do governo os combustíveis fósseis e transitar de forma justa para outras formas de energia, temos de demitir o ministro que mais defende estas grandes empresas e retirar, de vez, a “voz” dos combustíveis fósseis do Governo.
3. Fim à mineração em Portugal;
Portugal é uma região em que lítio é abundante, o lítio é utilizado para baterias de carros (tanto a petróleo como elétricos), pilhas, baterias de telemóveis, etc. Recentemente foi aprovado um projeto de mina a céu aberta da zona da Serra da Estrela (bem como noutras zona do país) , uma das maiores extensões de floresta em Portugal: um pulmão indispensável. A criação destas minas já foi contestada pelo seu inerente impacto ambiental e é criticada não só pelos estudantes mas pelos habitantes destas regiões. Um dos argumentos a favor da criação destas minas devastadoras é a criação de novos postos de trabalho para os habitantes e o lucro que esta extração trará às zonas. É extremamente improvável que a mão-de-obra contratada para estes postos seja regional, minas deste tipo preferem mão-de-obra não qualificada, barata, de preferência estrangeira e explorável. No que toca à riqueza, o dinheiro conseguido através desta mineração não irá ser utilizado na urbanização destas zonas nem para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Para além destes pontos, o lítio seria extraído relativamente rápido, ou seja, ao fim de poucos anos a mina seria abandonada, e o solo onde se havia retirado o lítio dificilmente retornaria ao estado em que se encontra hoje. As repercussões climáticas e a diminuição da qualidade de vida e de saúde dos habitantes das zonas afetadas não justificam uma jazida de lítio. A transição justa não vai acontecer enquanto se criarem minas e a sua extração, extremamente poluente, continuar.
4. Fim à obrigatoriedade dos exames nacionais.
Apesar de não diretamente ligada às alterações climáticas, este movimento é estudantil e juvenil e algo pelo qual lutamos, bem como justiça climática é o fim dos exames nacionais obrigatórios. Em tempos de Covid obtivemos uma alteração na forma como os exames nacionais foram redigidos e realizados: só fazia quem precisava ou queria para a entrada no ensino superior. Nós concordamos que este modo de adesão ao ensino superior permaneça mesmo depois de termos voltado à suposta “normalidade” uma vez que, nestes três anos, comprovou-se que poderíamos manter este sistema sem alterar significativamente o processo de término do secundário e ingresso na universidade.
A Ocupa é um movimento de disrupção não-violento, nós lutamos por um futuro, porquê estudar para um futuro inexistente?
Texto redigido por M.S.P.