Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
OCUPAÇÃO DE NOVEMBRO
Ocupar a FCUL:
Durante os séculos, sempre houve pessoas que afirmavam que a ciência devesse ser apolítica. Que ela pudesse ser apolítica. Frequentemente, eram as mesmas pessoas que usaram a ciência para desumanizar povos indígenas, lobotomizar mulheres, roubar a autonomia a deficientes, ou construir armas de destruição que mataram milhões. Sempre houve cientistas que se esconderam atrás de uma “objetividade numérica” e ignoraram o mundo à sua volta e as necessidades das pessoas que nele habitam.
Nós sabemos que isto não é verdade. A ciência é uma ferramenta magnífica na procura do conhecimento. É um fim em si mesmo e um meio para outros fins. A ciência pode destruir-nos ou salvar-nos. Durante os últimos 50 anos, a ciência tem-nos avisado do desastre que aí vem. Do colapso que já começou. Durante estes 50 anos, a ciência, isto é, os órgãos (como a FCUL) por ela responsável, tem também continuado a investir num futuro fóssil, investigando e ensinando “técnicas verdes” para explorar e usar combustíveis que nunca serão sustentáveis.
Este ano, vimos o Paquistão inundado, Portugal em seca, e a Europa a arder. Vimos demasiadas catástrofes para serem aqui listadas. Mas não nos podemos deixar cair na apatia. A ciência pode destruir ou salvar-nos. A ciência tem que nos salvar.
Isto significa que nós temos que nos salvar. Nós cientistas, nós estudantes de ciências temos que agir. A ciência climática tem de liderar a transição justa. E se a FCUL continua a ignorar esta realidade, cabe a nós torná-la inignorável.
Sabemos, através da ciência, que se ultrapassarmos os 1.5°C de aquecimento global, vários mecanismos de feedback positivo entrarão em ação, e as alterações climáticas tornar-se-ão irreversíveis. Sabemos também que os combustíveis fósseis são os maiores responsáveis por estas alterações.
Se queremos ter um planeta onde praticar ciência, onde viver, há apenas um caminho. Fim aos fósseis até 2030.
Com esse fim, nós, estudantes de ciências, decidimos ocupar a FCUL. Ocupamos com medo das possíveis consequências desta ação, mas com mais medo das consequências de não fazer nada. Ocupamos com esperança pelo que esta faculdade pode ser, e mais esperança pelo mundo que ela pode ajudar a criar.
Felizmente, não estamos sozinhas. Pelo mundo inteiro, milhares de estudantes uniram-se e continuam a unir-se pela justiça climática. Pelo mundo inteiro, escolas e universidades estão a ser ocupadas pelo fim ao fóssil.
Escolhemos ocupar as escolas porque são o nosso local de influência. Ocupamos as universidades porque simbolizam o nosso futuro. Um futuro que não é garantido. Já em 2019 o movimento estudantil mostrou a sua força. Agora, face à continua ameaça dos fósseis ao nosso futuro, seremos ainda mais fortes.
Construir a FCCL
Como as restantes ocupações escolares em Portugal, reivindicamos o fim aos fósseis até 2030, e o fim aos fósseis no governo, começando pela demissão imediata do ministro da economia e do mar António Costa e Silva, ex CEO da Partex Oil and Gas.
Como as restantes ocupações, temos também um plano e conjunto de reinvindicações próprios.
A FCUL continua a não prioritarizar a ciência climática. As alterações climáticas ainda são pouco discutidas nos seus currículos, e insuficientemente presentes na sua investigação, enquanto que os cursos como a Engenharia do Ambiente e a Biologia da Conservação não abrem vagas suficientes para refletir as necessidades da transição justa. Simultaneamente, a FCUL participa no greenwashing da indústria fóssil, e prepara ainda estudantes para trabalhar nela, como é o caso dos cursos de Geologia e de Química Tecnológica.
Se queremos ter um planeta onde viver, precisamos de acabar com os fósseis até 2030. Se a FCUL continua, em 2022, a ensinar estudantes a extrair e refinar petróleo, está em negação desta realidade, ou tem intenções suicidas. Nenhuma destas opções é aceitável.
Quando um modelo científico não é congruente com a realidade, nós abandonamo-lo em busca de um modelo melhor. E como a FCUL continua a ignorar a realidade climática, deixamo-la para trás, para fundar a FCCL, a Faculdade de Ciências Climáticas de Lisboa.
Porque reivindicamos o fim aos fósseis na FCUL, e a prioritização da ciência climática, criamos um novo espaço de aprendizagem a ela dedicado, que reconheça ainda a sua natureza política. Com esta nova faculdade, pretendemos não só exigir mas construir um futuro novo.
Como reivindicamos o fim às propinas, a FCCL será grátis e aberta a todas as pessoas interessadas.
Reivindicamos o abandono da pedagogia regente, já há décadas refutada pela ciência. Por isso, a FCCL usará pedagogias dinâmicas, encorajando a participação ativa de cada estudante na sua aprendizagem, e facilitando a partilha de informação por todas num ambiente colaborativo.
Exigimos habitação estudantil grátis para todas as estudantes que a requisitem. Por isso, a ocupação será um espaço aberto, onde todas poderemos dormir.
Exigimos uma cantina vegetariana e grátis para todas as estudantes, pelo que a FCCL terá uma cantina vegana social para as suas estudantes.
Exigimos o financiamento adequado da Horta da FCUL por parte da administração. Assim sendo, a FCCL será solidária com a Horta e assegurará a sua expansão.
Toda a nossa vida ouvimos a conversa dos nossos líderes sobre como resolveriam os nossos problemas, e as emissões aumentaram. Por isso, colocamos o nosso futuro nas nossas próprias mãos. Toda a nossa vida ouvimos outros dizerem que os nossos sonhos eram uma utopia impossível. Por isso, demonstraremos como esse futuro é alcançável.
Nós exigimos uma faculdade e um mundo melhor. E cometemo-nos ainda a construí-lo com as nossas próprias mãos, diante de todos os nossos olhos.
Junta-te a nós!