As nossas universidades não existem numa bolha exterior à sociedade em que nos integramos, são fundamentais na construção e evolução da mesma. A Faculdade, como as restantes instituições de poder, é um espaço político por excelência no qual temos de nos envolver de modo a lutar pelas nossas reivindicações tanto no que toca à vida estudantil, como no contexto da luta climática.
A 24 de março de 1962, os estudantes da Universidade de Lisboa foram protagonistas de um dos maiores levantamentos estudantis em oposição ao regime fascista de Salazar. Anos mais tarde, em 1968, em França, os estudantes insurgiram-se contra as políticas conservadoras de Charles de Gaulle, contra a Guerra do Vietname, trazendo para o território francês uma onda de protestos que teve como expoente máximo a ocupação e encerramento de faculdades. Já nestas décadas mais próximas, em vários países, os estudantes lideraram ocupações dos seus espaços universitários, reivindicando mais direitos, uma vida digna, e o fim do sistema capitalista.
A nossa faculdade não é exceção. A Faculdade de Ciências Sociais e Humanas é hoje, e sempre foi, palco de lutas estudantis. É este legado que queremos agora continuar. Vamos ocupar a FCSH porque reconhecemos a importância de trazer a luta climática para dentro dos muros da faculdade, porque é exatamente dentro destes muros que nascem as mentes que irão influenciar e decidir o futuro.
Ocupamos a FCSH para que juntas, consigamos terminar com a indústria fóssil, pilar essencial do sistema capitalista que tudo nos rouba, responsável pela crise climática que ameaça o nosso futuro.
A ocupação não é um ato performativo com o simples objetivo de causar alvoroço: perante o fracasso do recurso à política institucionalizada das reitorias e do governo, a ocupação da FCSH é o ato político por excelência – o bradar ansioso dos estudantes que procuram salvar os seus futuros e combater contra um sistema extrativista e destrutivo para as nossas vidas e quotidianos.
A ocupação é a demonstração de que os estudantes não serão complacentes com políticas destrutivas e com a desagregação da dimensão pública do Ensino Superior e com as políticas retrógradas de um governo que prefere ignorar as contradições do caos climático.
A luta não é apenas pelo clima, é também pela representação dos estudantes como grupo reivindicativo e pela democracia interna nas Faculdades, contra instituições como o Banco Santander: uma organização que não apenas tira a democracia aos estudantes na Universidade NOVA através do oportunismo sagaz da Universidade-Fundação, mas que também financia o caos climático através do investimento na indústria fóssil e na extração de petróleo e gás natural no Sul Global.
O movimento estudantil tem uma história de luta e de desafio aos poderes estabelecidos que não pode ser apagada em prol do teatro da negociação e colaboração com as instituições e governos responsáveis pela crise climática.
A Nova FCSH – erguida sob o regime da liberdade, e aclamado palco das lutas de esquerda até aos dias de hoje – não pode continuar a seguir as políticas velhas que nos levam à catástrofe.
Faremos da FCSH aquilo que queremos ver no mundo: livre de bancos que não olham a meios para conseguir os fins – seja à custa dos estudantes, seja à custa do planeta e de milhares de vidas -; livre de opressões; livre de combustíveis fósseis; e onde há futuro para sonhar.