A ciência demorou anos a admitir a gravidade, acusar – unânime – uma etiologia. A libertar-se
de pressões económicas e comprometer-se com soluções verdadeiras. As pessoas já não têm
esse tempo. Convivemos atualmente com reconhecimento de um padrão de colapso sistémico
do suporte físico-químico que habitamos, vivemos a crise planetária. Poderá o sentido de
urgência humanitária refletir-se numa narrativa própria de estudante de saúde?

Somos a resposta aos corpos queimados, mas onde ficamos quando a nossa casa está a arder?

1.2ºC para lá da homeostase, já temos cheiro e cor para o desequilíbrio medido e calculado, este já nos oferece estudos de caso. Entre 2007 e 2010, uma seca sem precedentes atinge território sírio, destruindo ¾ do que se cultiva. Fome e falta de trabalho culminam na entrada de mais 1 milhão de pessoas nos centros urbanos. Esta patogenia do desespero, que a ciência climática só agora começa timidamente a contar, alimenta consideravelmente a tensão sociopolítica que imerge o país na mesma altura, explodindo numa das guerras mais sanguinárias do nosso tempo.

Será mais fácil assistir a isto? Fechar os olhos enquanto só afeta as populações mais vulneráveis? Em vez de exigir uma mudança profunda na sociedade? Como estudantes de saúde, somos chamadas a mover-nos em função das necessidades das pessoas. Como testemunhas da condição e capacidade de resposta humanas, é essencial que sejamos uma voz consciente numa sociedade que se comporta de forma aditiva e desenfreada.

Movimentos como a Scientist Rebellion e fugas de informação-chave conseguidas entre
burocracia bafienta, ilustram uma comunidade científica em crescente confronto com a
toxicidade diagnosticada. Acusa-se o fundamento da nossa economia e receita-se uma
reformulação profunda. Cada vez mais cientistas veem na desobediência a maior legitimidade. Inviabilizando conservadorismos, os dados exigem mudança radical do presente estado das coisas: é essa a alternativa que nos mantém vivas.

No entanto, a decisão política a que assistimos não responde, comprometida com uma
sociedade adormecida que permite a manutenção dos mesmos eixos, debatendo o preço que
custaríamos a salvar. Por esta razão, há uma distância absurda entre o melhor futuro possível –
o aumento de 1.5ºC, o pior futuro aceitável – mais 2ºC, e o futuro mais previsível – o aumento
de 4ºC. Se a primeira opção é dolorosa, a segunda é uma súplica e a terceira uma absoluta perda de controlo. É nestes termos que, nos próximos 5 a 10 anos, decidiremos o futuro da
humanidade.
A subida de temperatura na Terra tem a capacidade de destruir sociedades
humanas a uma escala para a qual não temos resposta.

Direcionadas para um agravamento absurdo, estamos cegamente a alimentar a fisiopatologia
de feedback positivo que tanto estudamos, a descompensação que nos condena a um estado
terminal, impossível de travar. A evolução do problema não é linear, diz-nos a ciência climática
– estamos a abrir portas a novos ritmos de falência, desequilíbrios que se retroalimentam e
agravam, já se visualizando a eventual irreversibilidade.

Somos chamadas a ocupar os nossos espaços com o volume dos nossos valores, impedindo silêncio e falsa segurança nas nossas faculdades. A legitimidade está do nosso lado ao exigirmos, ao expormos mecanismos e alvos terapêuticos, ao reivindicarmos perspetivas de futuro.

Propomos pegar na força histórica de uma comunidade estudantil inconformada e organizada,
e inviabilizar o caminho antes que ele nos inviabilize a nós. O movimento internacional de
estudantes pelo fim aos combustíveis fósseis terá um pilar na comunidade estudantil da NMS, terá a voz das futuras médicas, nutricionistas e investigadoras.
Estamos agora a contruir a nossadesobediência, a debater reivindicações. Temos o que temos: (para já) ideias, planos, urgência, e espírito crítico.

Junta-te a nós. Chega-te à frente e ocupa o teu lugar.

Comentários

No comments yet. Why don’t you start the discussion?

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *