Da Primavera das Ocupas em Lisboa
O Consenso de Ação da Primavera das Ocupações é um acordo vinculativo para todas as pessoas que participem nas ocupações de escolas e universidades pelo fim aos combustíveis fósseis em Lisboa, convocadas pela GCE Lisboa, que terão início a 26 de Abril de 2023 e que serão lideradas por estudantes.
O consenso é um pré-requisito para organizarmos uma ação transparente e acessível a toda a gente. Em ações descentralizadas e com muitas pessoas, o consenso é a nossa ferramenta principal de cuidarmos umas das outras e de garantirmos a união entre as diversas ocupações pelo fim aos fósseis. Todas as pessoas que lerem e concordarem com este consenso são mais que bem-vindas a participar na ocupação da sua escola ou universidade.
Em novembro do ano passado, as centenas de estudantes que ocuparam os seus secundários e universidades fizeram história, exigindo que o governo acabasse com a indústria fóssil. O governo ignorou este apelo, mantendo o seu roteiro para o colapso climático.
Mas nós não desistimos, antes pelo contrário, continuamos a nossa luta com mais coragem e determinação. A única forma de cortar emissões é cortando os lucros das petrolíferas, acabando com o uso dos combustíveis fósseis de vez, até 2030. Para isto, e porque energia e um planeta habitável são um direito, precisamos de 100% de eletricidade renovável e acessível para todas até 2025. Por estas reivindicações nacionais, a partir de dia 26 de Abril, vamos ocupar dezenas de escolas em Portugal, ao mesmo tempo que centenas de escolas por todo o mundo.
Vamos criar disrupção no business-as-usual da sociedade para gritar que a nossa casa está a arder. Vamos fechar escolas e universidades para que as nossas reivindicações sejam ouvidas, provando ao simultâneamente que outro mundo é possível. Vamos interromper atividades lectivas e o funcionamento normal das escolas.
Ao mesmo tempo, sabemos que precisamos de toda a sociedade a tomar ação radical connosco para pôr fim ao fóssil. Nestas ocupas, vamos apelar a todas as pessoas para tomarem ação radical connosco para acabar com a economia fóssil e assegurar justiça climática.
Porque todas nós precisamos de criar “disrupção para parar com a destruição”, ocuparemos até que 1500 pessoas se comprometam a tomar ação direta e radical connosco contra a crise climática, comprometendo-se a participar no protesto da plataforma de ação Parar o Gás, dia 13 de Maio, na principal entrada de gás fóssil em Portugal – o porto de Sines -, por 100% de eletricidade renovável e acessível para todas as famílias até 2025.
Vamos criar a disrupção necessária para que sejamos ouvidas e para que 1500 pessoas se comprometam a tomar ação, mesmo que isso implique fecharmos dezenas de escolas e faltarmos às aulas por tempo indeterminado. Contudo, todas as ocupações serão diversas e assumirão diferentes moldes, mas vamos todas agir de uma forma calma e cuidada, e não vamos colocar nenhuma pessoa em perigo. Resistiremos ou contornaremos pacificamente quaisquer impedimentos de forças policiais ou de segurança. Utilizaremos diversas táticas e iniciativas criativas com o objetivo de suster a disrupção e fazer crescer a ocupação.
As ocupações não são contra as pessoas cujas vidas possam ser por elas afetadas de alguma forma, nem é contra membros da comunidade educativa, nem forças de segurança públicas ou privadas. A nossa ação é contra a economia fóssil e por justiça climática, e motivada por um profundo amor para com a vida na terra, um grande medo para com o nosso futuro, e uma enorme esperança acerca do que podemos alcançar se toda a sociedade se mobilizar por justiça climática connosco.
Reconhecemos que a nossa ação pode causar incómodos para algumas pessoas que não estavam informadas sobre a mesma antecipadamente, nomeadamente estudantes, docentes e auxiliares. Por isso, queremos expressar que o fazemos porque para evitar o colapso civilizacional, precisamos de criar disrupção nos nossos espaços. Convidamos todos os membros da comunidade educativa da escola ocupada a juntar-se à ocupa. A normalidade não pode continuar.
A nossa ação é divulgada publicamente e todas as pessoas, com ou sem experiência prévia, são bem vindas a participar na sua escola/universidade, desde que devidamente preparadas.
A segurança das estudantes e todas as pessoas envolvidas é a nossa prioridade principal. Para assegurar isto vamos preparar-nos com formações para a ação prévias às ocupações.
Tomaremos conta umas das outras antes, durante e depois da ação, e estaremos vigilantes face às necessidades e capacidades das pessoas que nos rodeiam.
O curso da ação será decidido em conjunto, pelo plenário dos delegados em cada ocupação, e por um grupo com representantes das várias ocupações. Assumimos a responsabilidade coletiva pelo sucesso da ação. Vamos assegurar um processo transparente, com respeito e apoio integral a todas as envolvidas, e não toleraremos qualquer tipo de discriminação.
Somos pessoas de diversas origens sociais e políticas. Vemo-nos como parte do movimento estudantil e pela justiça climática, a quem cabe atualmente o enorme desafio de travar o colapso climático. A nossa luta é contra o sistema vigente e todos os sistemas interligados de opressão e discriminação. Estamos em solidariedade com todas as pessoas afetadas pelas alterações climáticas e pela crise de custo de vida, e com as ocupações por todo o mundo que, como nós, participam no movimento “End Fossil: Occupy!” e lutam pelo fim aos fósseis e por um planeta justo e habitável.
Ambicionamos criar um espaço mais seguro em cada ocupação, livre de opressão e discriminação, e que pelo contrário nos desafie a construir uma sociedade mais justa, equitativa e inclusiva.
Vamos ocupar para provar que é possível um mundo novo, livre de fósseis e de opressões, onde a vida esteja no centro. Junta-te a nós!