Em 1969 lutaram para ‘pedir a palavra’. Hoje tentamos mantê-la. Mas na realidade contemporânea e em democracia, as estratégias de silenciamento lá se adaptaram: “meter palavras na boca”, informações redutoras, fotografias com legendas falsas, e generalizações sobre um movimento com milhares de grupos e milhões de indivíduos, cada um com a sua história pessoal, são as formas mais comuns de descredibilizar ativistas.
Podia fazer todo um discurso com os meus problemas financeiros para provar que não sou uma mimada que só quer estar zangada mas para algumas pessoas basta ter um telemóvel para não quererem ouvir as nossas palavras. Então vou concentrar-me em solidariedade.
Dia 12 ao acordar decidi ir à Manifestação contra o Fracasso Climático em Lisboa. De noite já estava a seguir os acontecimentos de forma curiosa e depois de ver o que ia acontecendo, senti que precisava de sair do conforto da minha cama em Coimbra para antes estar onde está a ser feita história – Lisboa. Num cartaz, escrevi “Vim da FLUC para apoiar a FLUL”, e “Estudantes em Luta”. Não surpreendentemente, algumas pessoas da FLUL foram falar comigo- “A FLUL agradece”.
Ambientes sobre-estimulantes não me fazem bem por ser autista e acabei a dormir apenas uma hora de sábado para domingo. De Domingo para Segunda-Feira, não cheguei a adormecer – soube da acção em frente ao tribunal, decidi ir na última hora e estava nervosa porque nunca fiz algo assim – numa manifestação é tudo mais anónimo. Acalmou-me ouvir dezenas de pessoas a gritar “Não estão sozinhas” várias vezes.Foi pura solidariedade estudantil do mais bonito que senti. É raro eu ter interações assim. Não conhecia as pessoas e até podia acontecer não gostar delas se as conhecesse. Mas com esta causa comum, e com a memória dos movimentos passados constantemente a serem relembrados nas nossas cidades, e na situação planetária e social em que vivemos e vamos viver mais, não temos escolha senão sermos solidários.