Francisco Pedro (Kiko) – Jornalista e Ativista da ATERRA

Não estão sozinhas poque eu também cá estou.
Não estão sozinhas porque a vossa coragem, sensibilidade e inteligência nos juntaram a todas nós, nesta linda tarde de outono, junto a este horrível tribunal.

Não estão sozinhas porque somos muitas a dar aquilo que de mais precioso temos – o nosso tempo e os nossos talentos – para travar os projetos ecocidas duma pequena elite ignorante e imatura.

Não estão sozinhas porque somos cada vez mais homens a aprender, com a vossa ajuda, a abrir-nos às nossas emoções, a calar a boca e a escutar.

Não estão sozinhas porque as nossas antepassadas estão connosco. Porque estamos a continuar a dança de todas as que antes de nós ousaram desobedecer, cuidar e amar por entre a ignorância e a injustiça.

Não estão sozinhas porque estão connosco as nossas filhas, todas as crianças que já nasceram e que vão nascer, e é por elas que lutamos e cuidamos nesta nossa fugaz e preciosa passagem.

Não estão sozinhas porque há sempre flores de ervas daninhas a romper o betão e raízes de árvores a levantar calçadas.

Porque há imensa vida para além dos muros das cidades.

Porque todos os outros animais da terra, do ar e das águas, plantas e fungos, batérias e vírus, estão connosco também, e nós estamos com eles.

Porque por toda a parte a vida quer regenerar-se e prosperar, e temos a curiosidade de redescobrir o nosso papel nesse natural e misterioso re-equilíbrio da mãe Terra.

Não estão sozinhas porque nenhuma de nós o está. Porque juntas superamos as ilusões da separação, da solidão e da depressão. Porque juntas fazemos a nossa história, aquela que vem depois do patriarcado, do capitalismo e do colonialismo, em que nenhum ser vivo ficar para trás.

Não estão sozinhas porque a vida é muto mais divertida, simples e verdadeira quando desobedecemos ao que dizem as elites e obedecemos ao que diz o coração.

Não estão sozinhas.
Não estamos sozinhas.