Nós, profissionais de saúde, estamos particularmente preocupados com os efeitos da atual crise climática na saúde da população, assim como com os desafios que nos colocará na prestação de cuidados. O impacto destes efeitos poderá ser catastrófico se não forem tomadas rapidamente ações decisivas para mudar as atuais projeções de uma elevação da temperatura média do planeta de 2 a 3º C até ao final do século.
As vagas de calor trazem consigo mais fogos florestais, mais doenças cardiovasculares como enfartes de miocárdio e acidentes vasculares cerebrais, que já são a principal causa de morte em Portugal. Produzem ainda um aumento de doença respiratória aguda, assim como de doença renal. Levam a partos prematuros e perdas indesejadas de gravidez. As inundações que se seguem a chuvas extremas levam a afogamentos, derrocadas e desalojamento, assim como a contaminação por águas residuais. Todas estas situações dificultam o acesso a medicamentos, a cuidados de saúde e, mais importante ainda, travam o acesso a alimentos e água potável, com graves consequências para a saúde.
Estima-se que mais de 58% das doenças infeciosas possam ser agravadas pelos danos climáticos, por vários mecanismos como o aumento da proliferação de patogénicos comuns ou a disseminação de insetos vetores como os do dengue e malária, trazendo doenças de elevada mortalidade para áreas geográficas que lhes passam a ser favoráveis, como o território português.
Das secas, fogos e tempestades também são vítimas as terras agrícolas e o gado, motivando subida de preços e insegurança alimentar para um crescente número de pessoas.
Conhecemos os efeitos a nível da saúde mental, como o trauma decorrente de eventos extremos, a ansiedade climática e os elevados níveis de stress associados à precariedade económica que contribuem para o agravamento das problemáticas de saúde física. Estes impactos são particularmente elevados para crianças, mulheres, pessoas mais velhas, comunidades vulneráveis ou com perturbações pré-existentes, o que tendo em conta as comprovadas insuficiências do Serviço Nacional de Saúde em responder às necessidades de saúde mental da população, poderão contribuir decisivamente para o seu colapso.
Se é urgente que os sistemas de saúde desenvolvam um mapeamento de riscos, sistemas de alerta precoce e um reforço muito significativo de capacidade que lhes permita melhor lidar com desastres e aumento de ameaças crónicas, sabemos que, de qualquer modo, a crise ditada pelo atual ritmo de emissões colocaria os sistemas de saúde para lá da sua capacidade de adaptação.
Sabemos que o tempo não joga a nosso favor e que todos os impactos da crise climática serão inevitáveis se ultrapassarmos a barreira de segurança dos 1.5ºC de aquecimento desde os níveis de temperatura pré-industriais. Caminhamos a passos largos para essa situação com as propostas do atual quadro político. Para países do Norte Global, como Portugal, o único plano compatível com a ciência e com justiça social é acabar com os combustíveis fósseis até 2030 através de uma transição energética justa que não prejudique aqueles que menos contribuíram para esta crise que todos enfrentamos.
É essa urgência que sentem os jovens que deram até 15 de novembro para o governo apresentar um plano concreto que garanta o futuro de todos e é por isso mesmo que merecem toda a nossa solidariedade nesta luta, que é provavelmente o maior imperativo sanitário e existencial do nosso tempo.
Apelamos a que todos os profissionais de saúde se juntem a nós e aos estudantes na luta pela única solução que nos protege do colapso sanitário e nos permite ter um planeta habitável. Não há outra opção para quem tudo dedicou para cuidar da vida humana!
Apelo – Participa na Marcha de 22 de Novembro
É também por tudo isto que, se o governo não apresentar um plano para garantir o Fim ao Fóssil até 2030, nós, profissionais de saúde, vamos sair à rua e marchar no dia 22 de novembro até à Assembleia da República numa manifestação que converge diversos setores da sociedade, de diferentes idades, profissões e origens.
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Mónica Pina, médica internista, especialista em Medicina de Lactação, presidente da European Association of Breastfeeding Medicine
André Almeida, médico internista, assistente convidado NMS
Mário André Macedo, enfermeiro especialista em saude infantil e pediátrica, gestor hospitalar
Luana Cunha Ferreira, PhD. Psicóloga, Professora da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa
Madalena Cabral Lobao, Médica, ULS S Jose
Rita Cabrita, Médica de família, Ucsp Olivais
Arianna Borelli, Médica de Família (conselho português para os refugiados)
João Graca, Médico
Helena Maria Silva de Almeida, Psicóloga
Tania Dinis, Psicóloga
Leonor Baptista de Oliveira, Psicóloga
Cecília Morais, Psicóloga
Filipe Lança, Médico
Beatriz, Médica, ULS Amadora Sintra
Hélio Gonçalves Pires, Médico
Rodrigo Militão, Médico
Ana Rita Vieira, Médica de Clínica Geral
Rafael Henriques, Médico de família
Maria Inês Formiga Viera, Nutricionista
Ana Cardoso, Médica
Sonia Bernardes, Psicóloga
Ana Maria Valinho, Enfermeira
Maria da Silva, Médica de família
Sara de Carvalho Ferreira, Médica de família Lisboa
Inês Mendonça, Médica intensivista
Hugo Esteves, Médico de Saúde Pública
Bruno Maia, Médico
Nuno Malafaia, Técnico de Farmácia
Sara Espírito Santo, Terapeuta ocupacional
Margarida Cruz, Médica
Elsa Paulino, Médica
Maria Célia Alves Roque Grave, Socióloga/assessora em saúde
Graça Maria Pereira Gonçalves, Pediatra – Clínica Amamentos
Beatriz Matos, Médica

