Como ex-aluna da licenciatura em História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa estive, estou e estarei com as quatro pessoas estudantes acusadas de desobediência civil e a quem expresso a minha total solidariedade e empatia. A FLUL não é nem de Miguel Tamen nem da sua direcção, mas de todas e todos que dela fazem ou fizeram parte e que almejam um mundo melhor, recusando a inevitabilidade da extinção da vida na Terra. A investida da polícia sobre pessoas estudantes a mando do director de uma faculdade de letras é bem revelador da crise nas humanidades, que são hoje desprezadas e têm visto o seu investimento decrescer com o argumento de que não preparam as pessoas para o mundo do trabalho (mas qual mundo, o que colapsa?). Porém, a acção destes estudantes prova que são as humanidades que promovem o espírito crítico (incluindo a auto-crítica), a capacidade argumentativa, a imaginação criativa para resolver problemas e arranjar soluções, o respeito pela alteridade e a capacidade de compreender e aceitar as diferenças, a harmonia social, a autonomia e a liberdade; enfim, a capacidade de participar activamente nas escolhas políticas. As humanidades são essenciais à democracia, num momento em que ela está sob ameaça, mas também no sentido de, como defendeu recentemente o filósofo ambientalista Viriato Soromenho-Marques justamente a propósito deste caso, “deslindar as causas do paradoxo entre o reconhecimento discursivo do perigo colossal e a marcha acelerada para a sua brutal consumação”. É isso que estes estudantes nos lembram, incorporando o Direito de Resistência consagrado no Art. 21.º da Constituição, na sua defesa pela vida na terra, em toda a sua complexidade e biodiversidade. Enfim, a vida de todas e todos nós. Muito obrigada. Não estão sozinhas!