Na noite de 11 de Novembro de 2022 segui incrédula — através do Instagram de estudantes @fimaofossil.flul — a intervenção da polícia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), cercando o edifício e depois entrando para tirar à força um pequeno grupo de estudantes que protestavam pacificamente pelo futuro do planeta.
Tenho 54 anos. Nunca pensei ver imagens destas em democracia, no país onde nasci. Há um antes e um depois de 11 de Novembro. O director de uma faculdade pública chamou a PSP para remover meia dúzia de estudantes pacíficos. Não apareceu nessa noite. Não deu a cara, não dialogou, não dirigiu. Convocou uma força de segurança. E no dia 29 de Novembro quatro estudantes irão a tribunal porque um director delegou assim a sua responsabilidade em agentes armados, abdicando da missão para que foi eleito numa faculdade. De Letras. Que direcção é esta? Que adultos são estes? Que parte ainda não entenderam? De que lhes servem as letras? E os anos? Que visão, que lucidez, que discernimento, que coluna vertebral? Tenho vergonha da noite de 11 de Novembro. Vergonha do mundo que eu, a minha geração e as anteriores entregamos a esta. Toda a gente está em dívida para com as pessoas jovens que em 2022 nos tentam despertar para a maior emergência de sempre. Só há um lado, como só há um planeta: estar incondicionalmente com a luta das 4 estudantes que agora vão a julgamento. É simplesmente a luta de todos os seres vivos.